terça-feira, 14 de outubro de 2014

[Desabafo] Bipolar 2008 - 2014

Foram longos anos de caminhada, tudo começou no fim de 2008 e nesse segundo semestre de 2014 eu dei um fim nisso tudo. A Bipolar talvez não tenha sido minha primeira banda (se contar a que eu tive com o Lucas e o Matheus na quarta série), mas com toda a certeza foi a que me fez crescer musicalmente falando. Eu sempre quis isso pra minha vida, acho que toda minha família está de prova e quando eu finalmente consegui formar a banda parecia a realização de um sonho. Foram longos anos junto da banda, das mil pessoas que passaram por ela e de tudo o que eu passei com ela. Foram inúmeros momentos bons e ruins (com uma avalanche de momentos ruins logo no fim) que me fizeram ter mais experiência sobre tudo.
Há algum tempo eu estava tentando decidir o que fazer com essa banda que fez uma certa história em Campinas, uma banda com um nome forte, uma banda que tinha fãs, camisetas, e que lotava casa de shows. Confesso que não foi nada fácil para mim dar um fim nisso tudo, depositei muito tempo e dinheiro, muito de minha vida ali. Sou muito grata por todas as oportunidades que eu tive com a Bipolar, tudo o que ela me proporcionou, todos os sorrisos e momentos felizes, sou grata pelos momentos ruins e pela oportunidade de aprender com os erros e crescer com isso.
Lembro-me do "ritual" que eu sempre fazia antes de todos os shows: Era de suma importância que tivesse macarrão com salsicha para o almoço, minhas roupas eram selecionadas dois dias antes e deixadas separadas e passadas, o banho vinha antes do almoço, mas só me arrumava depois para não ter risco de sujar a roupa (vocês sabem que eu sou um desastre e sujo tudo). Depois de colocar a roupa era a hora de arrumar o cabelo (que não demorava muito porque era bem curto na época) e aí vinha a parte da "maquiagem" (coisa que eu nunca fazia direito, um lápis no olho era suficiente), a escolha do tênis, o alho no bolso e o frio na barriga. Era impressionante como eu sentia frio na barriga, e acho que é (talvez) a parte mais gostosa de se fazer um show. Eu sempre disse que no dia em que eu parasse de sentir esse frio na barriga eu pararia de fazer shows, porque já não significaria tanto para mim. Metade da banda dormia em casa no dia antes do show, geralmente só a Jéssica (vocalista, na época) que ia direto da casa dela. Digo que dormíamos mas mal conseguíamos pregar o olho de tanta ansiedade. Ficávamos imaginando quantas pessoas teriam no lugar, se daria tudo certo, se as pessoas iriam se divertir tanto quanto nós...
Meu pai sempre me levava até a casa do show, quanto mais perto chegava do local, mais frio na barriga e falta de ar me dava. Quando eu via aquela galera parada na fila pra entrar na casa eu já começava a tremer. Naquela época era por sistema de cotas de ingressos, quanto mais ingressos vendíamos, mais perto da banda principal tocaríamos. Sempre nos esforçamos pra vender a maior quantidade de ingressos para sempre tocar o mais tarde possível e com a casa mais cheia (por mais que nós não achássemos justo esse sistema).
Os minutos antes de subir no palco eram talvez os que mais demoravam para passar. Juntávamos no camarim, fazíamos a nossa oração, alongávamos, cada um da banda energizava o outro e aí vinha o momento em que a banda que estava tocando sai do palco e podemos subir, e aí começava: "Vai você", "Vai você primeiro". Eu odiava ser a primeira à dar a cara no palco, sempre fui muito tímida e isso nunca mudou, mas sempre conseguimos fazer o baterista subir primeiro, por ser o que fica mais "escondido". Montar o palco rápido estava se tornando uma virtude nossa, abrir shows é bem difícil pelo tempo que eles te dão para fazer tudo, era tipo 30 minutos para a banda subir no palco, montar os equipamentos, tocar as músicas e desmontar os equipamentos, parece fácil? Queria ver tentar...
Mas á partir daquele momento em que eu subia no palco parecia que simplesmente meu mundo todo ficava lá no camarim, todos os problemas, todas as dúvidas, incertezas, a dor de barriga (Dor de barriga é totalmente comum antes de qualquer show), e etc. Só subia comigo o alho, a tremedeira e o frio na barriga que se dispersavam logo na primeira música. Sempre que eu subia no palco e olhava aquela galera, eu sentia que era exatamente aquilo que eu nasci para fazer. As coisas para mim em cima de um palco são fáceis... tudo o que eu precisava e queria estava ali. Eram os 30 minutos mais felizes do meu fim de semana.
É óbvio que já tivemos shows bons, ótimos, ruins e péssimos (tem uns que eu dou risada para não chorar), mas gosto de guardar todos na memória como uma grande experiência. Existem alguns shows que eu me lembro até hoje de como foi fácil e gostoso tocar, tinha alguns que de tão péssimo parecia que não passava logo os minutos.
A questão é que a Bipolar passou por tantas situações, tantas pessoas passaram por ela (pessoas de boa e pessoas de má índole) que eu acho que acabou sendo uma sobrecarga negativa sobre ela. Nos últimos anos foi muito difícil tocar a banda, teve mudança de formação mais do que mudança de cueca, teve furto entre integrantes, teve brigas, integrantes que não sabiam se queriam casar ou comprar uma bicicleta e nada parecia funcionar, até que eu mandei todos embora e resolvi que ia começar de novo, do zero. No começo ela ainda seria a Bipolar, mas com outros membros, tudo novo. Porém, depois de conversar muito com o André (meu guitarrista), eu decidi deixar a Bipolar como parte de um passado feliz da minha vida. Ainda semana passada eu me desliguei de tudo o que eu tinha com o nome da banda, exclui muitas coisas e estamos recomeçando com outro nome. Não é nada fácil pra mim ter que fazer isso.
O que eu tenho para dizer é muito obrigada à todos que participaram direta e indiretamente desses seis anos de Bipolar. Obrigada por todos os sorrisos, por todos os choros, todos os gritos e elogios em shows, obrigada pelas discussões, obrigada por me amadurecerem como uma profissional no ramo musical, obrigada pelas experiências, por laços criados e laços cortados, obrigada por acreditarem em mim e no meu sonho e sempre me incentivar, me darem conselhos, brigarem comigo e me fazer querer ser sempre melhor. Eu só consegui chegar tão "longe" com a Bipolar por vocês.
Espero poder compartilhar com vocês minha nova banda o mais cedo possível e espero também que não desistam do sonho dessa pequena garota aqui, eu ainda não desisti. E Bipolar, você foi (perdoa o palavrão mãe, mas não sei se conseguiria não escrever) foda pra caralho!